Título original: "O ciclo viertuoso da pontualidade".
Francisco Turra é presidente da Associação Brasileira de
Proteína Animal
A reunião que demora para começar. A consulta que nunca
acontece na hora marcada. O amigo que chega no final da festa. A lista de
exemplos da cultura do atraso em nosso cotidiano é infindável. Mas isso não é
apenas sobre comportamento e vida privada; é também sobre negócios e práticas
comerciais. Muito além dos minutos perdidos, esse vício contamina as relações
tanto quanto nossa economia.
Observo essa chaga em minha trajetória no setor público e
na iniciativa privada, há décadas participando de encontros e eventos - aqui e
no Exterior. Nós, brasileiros, temos uma desvantagem competitiva em relação a
países que agem com mais disciplina. As concessões que fazemos para o atraso
acabam por conformar a ideia de que isso é aceitável. Tal comportamento traz
implícita uma desconsideração com o outro.
Posso parecer rígido demais ao afirmar isso, mas minha
experiência de vida comprova: o viciado em impontualidade não é confiável. Não
se deve perder tempo com ele. Muitos culpam a gênese do brasileiro por tudo, o
que justificaria o "jeitinho" e outros tantos maus costumes a nós
atribuídos. Desculpem-me os conformados, mas essa não é nossa essência. Há um
Brasil profundo que dá certo - que avança inclusive com base na pontualidade.
Se o atraso é contagiante, a pontualidade também é.
A imagem de profissionalismo de locais como Inglaterra,
Japão e Alemanha vem também do respeito aos horários e do histórico de honrar
seus compromissos. Um exemplo do efeito dessa reputação é o aeroporto Salgado
Filho: mesmo sem conhecer detalhes sobre a vencedora da concessão, muitos
gaúchos saudaram o resultado da concorrência pelo simples fato de tratar-se de
uma empresa alemã.
E, de fato, foi! Para que o círculo virtuoso da
pontualidade traga ao Brasil os frutos colhidos por outras nações, é preciso
valorizá-la das pequenas às grandes coisas. Valorizar essa qualidade significa
elevar nossos valores. E compreender que, com respeito aos outros, podemos
fazer um país muito maior e mais forte.
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