1) As ações brasileiras não estariam baratas. Muito embora, em
termos referenciais aos mercados desenvolvidos, o “preço/lucro” das ações
brasileiras que compõem o Ibovespa seja inferior ao dos países desenvolvidos,
se compararmos a quocientes do passado estaria elevado. No entanto, para todos
os que investem com visão de médio e longo prazos, admitindo que a economia
brasileira continuará lenta e gradualmente melhorando, os preços não parecem
absurdos numa análise criteriosa, e não superiores aos do México, por exemplo.
Analistas internacionais vêm alertando há algum tempo que podemos
estar no fim de um processo de alta nas bolsas mundiais, o que afetaria o fluxo
de capitais para países em desenvolvimento. Há controvérsias a esse respeito,
pois os mercados têm demonstrado maior resiliência às crises vividas e alguns
falam no que chamam o “novo normal”.
2) A venda em bloco de ações, seja de empresas públicas ou
privadas, estaria indicando desconfiança na manutenção dos atuais preços em
bolsa. Lembro que muitas dessas ações estiveram em suas carteiras por vários
anos e não foram ao mercado por falta de qualquer possibilidade; surgindo a
oportunidade de dar liquidez, não as deixaram passar. Assim, a colocação não é
indicativa de uma desconfiança no mercado, e sim de uma oportunidade de
reequilibrar carteiras e dar liquidez a parte de seu portfólio.
3) Dúvidas sobre o crescimento do nosso PIB e uma imagem negativa
do Brasil não ajudam. Há que reconhecer essa realidade, mas a ênfase está em
que alguns desses problemas não são novos e fatos recentes indicam que alguns
segmentos do governo estão conscientes da necessidade de alterar essa imagem.
Como exemplo, em 21/1 o presidente Jair Bolsonaro propôs a criação do Conselho
da Amazônia e indicou o vice-presidente Hamilton Mourão para sua coordenação,
bem como a criação da Força Nacional Ambiental, que preencherá importante
espaço para equacionar a questão climática. Os dois aspectos transmitem
iniciativa positiva com a indicação sobre mudança de sensibilidade em relação à
Amazônia, que é uma questão crucial para nossa imagem.É certo que cada vez mais
os investidores externos não olharão exclusivamente para o desempenho da
economia brasileira, mas também para temas gerais, como a questão climática,
nossa política de segurança interna e melhor educação. Isso ficou muito claro
na 20.ª reunião anual do Fórum Econômico Mundial, realizada em Davos em
janeiro.
Quanto ao crescimento do PIB, se 2,2% projetados para 2020 pelo
FMI não são o número dos nossos sonhos, confirmam uma tendência positiva e
mostram que estamos progredindo e nos diferenciando dos diversos países da
América Latina.
4) Paixão asiática – os olhares dos investidores estariam
direcionados principalmente para os países asiáticos, que na opinião de muitos
investidores continuarão, em média, mantendo o crescimento com maior velocidade
que países em desenvolvimento, como em nossa região. O surto do coronavírus
deve ter efeito negativo no desempenho dos países asiáticos e suas
consequências, particularmente sobre a China, ainda não são mensuradas.
Portanto, essa paixão está sub judice.
5) Tensão social – alguns investidores de mercado pesam, em sua
decisão de aplicar em bolsa, o temor de que se reproduzam no País manifestações
sociais como as vistas no Chile, na Colômbia e no Equador. Isso sem falar nos
resultados da eleição presidencial na Argentina. Considerando a situação
diferenciada do nosso país, ainda assim líderes políticos do passado vêm
estimulando reações populares contra o governo, quer por questões ideológicas
ou por demora nos resultados de política econômica, que causam insegurança aos
investidores de curto prazo.
Temos plena consciência desse risco potencial, mas devemos
reconhecer que o Congresso, no seu ritmo, vem trabalhando para mitigar as
distorções que nos acompanham há muitos anos.
A questão do emprego é complexa, dadas as sensíveis mudanças no
mercado de trabalho, pela necessidade de reciclar nossa mão de obra para
atender à demandas de emprego impostas pelas novas tecnologias.
Não quero, aqui, deixar um quadro róseo, como se tudo estivesse
sob controle, mas não consigo olhar o Brasil com pessimismo nos anos vindouros,
considerando os obstáculos que temos pela frente. Na minha visão, o quadro
externo é certamente uma variável adicional, que não nos ajuda.
Assim, os investidores nacionais ou estrangeiros não devem deixar
de lado a prudência, diversificando suas aplicações e avaliando claramente os
riscos, considerando sempre não abrir mão de eventuais necessidades futuras de
liquidez ao definirem sua política de investimento. Porém continuo vendo o Brasil
como uma boa alternativa.
* ROBERTO TEIXEIRA DA
COSTA É ECONOMISTA E CONSELHEIRO EMÉRITO DO CENTRO BRASILEIRO DE RELAÇÕES
INTERNACIONAIS E DO CONSELHO EMPRESARIAL DA AMÉRICA LATINA
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