Artigo do vice-presidente Hamilton Mourão

 O resultado da eleição presidencial deste ano foi um teste para a democracia no Brasil. Como aconteceu a tantos países na História contemporânea, das urnas emanou, no dia 30 de outubro passado, uma decisão cujos resultados só podem ser revertidos pela prática da democracia, a começar pelo respeito às manifestações ordeiras e pacíficas da população.


A palavra, distorcida pela grande imprensa e cerceada pelo Poder Judiciário, venceu a razão, presente tanto nas reformas de que o Brasil precisa quanto nos números irretorquíveis do trabalho do atual governo.


A amargura da tragédia da pandemia sobrepujou o muito que a administração federal fez e procurou fazer em prol da população, particularmente da mais pobre.


De uma eleição em que os meios se impuseram aos fins não há o que comemorar, apenas lições e responsabilidades a assumir.


A primeira delas é a de que, no Brasil, a direita, aquela tendência do pensamento político caracterizada pelo conservadorismo de costumes, pelo estímulo à iniciativa privada e pela defesa da liberdade sob a égide da lei, é muito maior do que os votos que ela recebeu ou do que os votos que eram seus, e deixou de receber, dissipados por meios, legítimos ou não, cuja legalidade a História julgará.


O eleitor de direita é a pessoa que acredita em Deus, ama a Pátria e defende a família, cada vez mais consciente de que vive numa sociedade politicamente organizada no Estado Democrático de Direito, onde, entre outras premissas, todos são iguais perante a lei; onde é livre a manifestação do pensamento e de expressão, independentemente de censura ou licença; onde não há crime sem lei anterior que o defina…


Em Português, como em outros idiomas, a direita está associada ao agir direito, ao procedimento correto, acertado e apropriado. A direita é razão e, por isso, mais uma vez, tem razão em abominar o que se afigura como possível de acontecer ao Brasil pelo desrespeito ao que ele é e à democracia que ele segue construindo. A direita respeita a lei, pratica a democracia e preza a verdade.


O que nos leva à segunda lição: a direita vive da razão. Quem é de direita se sente responsável pelo que lhe acontece e pelo que acontece ao País, é realista diante das dificuldades, pensa por si próprio e é capaz de criticar os erros dos seus representantes quando eles se afastam dos compromissos assumidos.


A direita, por se orientar tanto por ideias quanto por ideais, se espraia por várias demandas, é pouco ideológica e dá espaço a novas lideranças, porque sabe que precisa delas. Sendo difícil de enquadrar por qualquer programa partidário único, o eleitor de direita é a antítese do súdito perfeito do autoritarismo e do totalitarismo. Na verdade, ele é a personificação impessoal da democracia.


Mas a grande lição deixada pelos dois turnos das eleições de 2022 foi a de que o Brasil é majoritariamente de direita, a direita que, não obstante ter-se dividido em distintas correntes de opinião, levantou bandeiras e se mobilizou em defesa do que acredita. A direita que, pela primeira vez na História do País, está firmemente enraizada em todas as classes sociais.


De algumas lições evidentes emergem respostas a este momento de perplexidade que exige tomada de posição firme e clara.


Fui eleito pelo Rio Grande do Sul para o Senado da República, apresentando-me como o verdadeiro candidato da direita ao povo gaúcho que me escolheu para servi-lo e ao Brasil. Estou pronto para formar nas fileiras da oposição democrática, ao lado de meus companheiros de partido e de convicção num Brasil de progresso, de honestidade e de segurança para toda a sua população, como sentinela atenta das liberdades e defensor intransigente dos valores e ideais que me elegeram, propugnando pelo resgate das prerrogativas e dos deveres do Senado Federal, cujo esquecimento levaram o Brasil a situações inimagináveis e inaceitáveis.


Mas não posso deixar de me solidarizar com o profundo sentimento de inquietação e de inconformismo que vai tomando as ruas e praças do País. O Brasil não pode se permitir pensar fora da democracia. Mas ele precisa de respostas neste momento, não da fala de autoridades que não as oferecem e extrapolam de suas atribuições disparando ameaças e ofensas.


O acatamento a resultados de eleições caminha lado a lado com o respeito ao povo em suas legítimas manifestações.


Está na hora de o Brasil, pela inarredável confiança em seu futuro, lembrar a ele mesmo e mostrar ao mundo o que é a direita, a prática e a tradição política do Ocidente que obteve os grandes triunfos da História.



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