Por Facundo Cerúleo
Tem o pós-domingo. Tem o pós-quarta-feira. Tem o calvário do Grêmio e
tem Botafogo e Bahia. E há loucuras do futebol que são loucuras da vida.
Ou não? O leitor tire as suas conclusões.
Os vizinhos deram graças a Deus quando a família foi embora do
condomínio com o filho de uns 10 anos que não respeitava ninguém. O pai,
em vez de corrigir, tomava o partido dele quando alguém reclamava, pai
que armou um banzé no colégio do bestinha só porque uma professora
enquadrou o moleque. Tem gente louca achando que isso é amor paterno.
Topei com essa gente muitos anos depois. E vi as consequências
dramáticas do pseudoamor e da omissão. Aos 16 anos, o rapazito furtava
objetos de casa para pagar dívidas de drogas. Aos 19, o pai estava
desesperado sem saber como resgatá-lo do crack. Nunca mais os vi. Mas
restou a lição para quem tem a coragem de encarar a vida como ela é.
E que relação tem isso com Grêmio ou com futebol? Bueno...
Não tenho estilo. Não sou Rui Carlos Ostermann. Meu texto abre caminho a
cotoveladas. Vou direto ao assunto sem rodeios. E largo perguntando: não
posso gostar do Renato Portaluppi e, ao mesmo tempo, reconhecer suas
falhas? Para mim, Renato é um baita ser humano! E tem algumas qualidades
como treinador. Mas, se eu fizer vistas grossas aos seus erros, não
estarei sendo parecido com aquele pai idiota que entregou de bandeja o
filho para o mundo das drogas?
No pós-domingo, rapazes da imprensa disseram que Renato foi corajoso ao
sacar Cristaldo e Carvallo para a entrada de Cuiabano e Ferreira contra
o Botafogo. Ué... Ué... Só desmontou o setor de meio campo! Que estava
muito bem! E Carvallo fazia talvez sua melhor partida desde que chegou.
Mas Renato tinha outra coisa para fazer? Tinha! Reinaldo (lateral), que
está em muito boa fase técnica, vem caindo muito de produção no segundo
tempo. Por que não saiu ele para a entrada do vigoroso Cuiabano? E quem
foi que falhou, armando o primeiro gol do Botafogo? Se disserem que foi
Reinaldo, eu direi não: foi a coragem do Renato... Coragem mesmo teria
sido tirar o magnífico Luis Soares, que, jogando no sacrifício, se
contorcia de dor em campo e daria lugar a Ferreirinha, que tem entrado
com sangue nos olhos e muita fome de gol.
Depois veio o Bahia, que, embora tecnicamente inferior, por pouco não
ganhou. Por que é que os volantes do Bahia tinham toda liberdade para
fazer o seu melhor? Quem tinha de ver isso (que se repete em todos os
jogos, ninguém marca)? E como se explica que Ademir, atacante do Bahia,
haja dado o maior calor à defesa tricolor nas duas partidas sem nenhuma
providência? Algum repórter questionou isso na entrevista coletiva?
Foram 22 finalizações contra o Bahia; 11 com endereço certo: só uma
entrou. O que é que está faltando?
"Ah, mas não é o treinador que entra em campo", diz o tampinha parecido
com aquele pai que passava a mão na cabeça do filho problemático. Certo,
papel de treinador é distribuir as camisas. É para isso que o clube lhe
paga um caminhão de dinheiro...
O Grêmio apanhou do Botafogo. E não venceu o Bahia: foi por um triz que
não perdeu a classificação na Copa do Brasil para um time mais fraco.
Tem algum técnico mais hábil que Renato para mobilizar o time? Difícil!
Mas ele será na mesma medida hábil para fazer a leitura do que acontece
dentro de campo? Difícil!
E eu me pergunto se ele não faria um pouco diferente se o entorno fosse
outro. Como seria se, por exemplo, nas coletivas, os rapazes da imprensa
se concentrassem em questões técnicas em vez das intrigas do clube? Só
que aí... os rapazes teriam que parar com o negócio de fazer culto à
personalidade do Renato. Coisa que eles fazem (ao menos alguns) para
ganhar "likes" em suas redes sociais. E fazem porque o torcedor... dá os
"likes"... bestamente...
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