A competitividade da economia brasileira situa-se no grupo
de pior nível no Relatório Mundial sobre a Competitividade publicado ontem pelo
IMD, uma das melhores escolas de administração do mundo, sediada em Lausanne
(Suíça).
O Brasil fica em 57º entre os 61 países avaliados. Perdeu
apenas uma posição em relação ao ano passado, mas o principal responsável pelo
relatório, o professor Arturo Bris, diz que não dava para a economia brasileira
cair mais do que a dos quatro últimos: Venezuela, Mongólia, Ucrânia e Croácia.
A Ucrânia, envolvido em conflito militar com a Rússia, ganhou uma posição.
Entre 2010 e 2016, o Brasil perdeu 19 posições no ranking
global da competitividade, numa das maiores deteriorações registradas.
"O Brasil tem o pior governo do mundo no relatório
deste ano", nota Bris, em entrevista ao Valor. "A eficiência do
governo fica em 61º lugar, o mais baixo nível em gestão das contas públicas,
transparência, barreiras ao comércio exterior, regulações laborais".
Segundo o professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral,
que assessora o IMD na coleta de dados sobre o Brasil, dois terços da avaliação
são baseadas em dados econômicos e um
terço em opinião de centenas de executivos.
A contração econômica e a deterioração das contas públicas
pesaram forte. Mas foi determinante a percepção negativa de empresários,
ouvidos entre janeiro e abril, em meio aos escândalos de corrupção, governo
frágil, falta de transparência e incapacidade de reanimar a economia
brasileira.
Além dos problemas recorrentes, como custo Brasil,
infraestrutura deficitária e corrupção, outra evidência que aparece, conforme
Arruda, é o tamanho do desafio sobre gestão pública e também privada,
particularmente nas áreas de telecomunicações, saúde e educação.
Página 1 de 2Brasil perde competitividade e tem pior governo
em 61 países
31/05/2016http://www.valor.com.br/imprimir/noticia/4581953/brasil/4581953/brasil
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"O Brasil está entre os 10 países que mais gastam
nessas áreas, mas também está entre os piores do mundo em termos de
eficiência", diz ele. "Para melhorar a competitividade brasileira, é
preciso repensar gestão pública e privada."
Bris identifica um padrão comum entre os 20 países mais
competitivos do mundo: o foco na regulação favorável aos negócios,
infraestrutura física e intangível e instituições fortes. Enquanto isso, avalia
Bris, no Brasil e na América Latina em geral o setor público continua a ser um
entrave para as economias.
"O Brasil não fez reformas quando podia e não adianta
só melhorar regulações ou abrir mercado", diz ele. "O combate à
corrupção, a melhora da educação e da saúde vão levar várias gerações no país,
vai demorar muito."
Arruda compara a situação atual à de fim do governo de
Fernando Henrique Cardoso e começo do governo Lula, quando a percepção sobre a
competitividade chegou a níveis muito baixos. Sua expectativa é que a percepção
empresarial melhore a partir de agora, como ocorreu no segundo ano do governo
Lula e como ocorre na Argentina com o governo de Macri.
Arruda aponta também elementos positivos no Brasil. As
exportações dão sinais de melhora. A infraestrutura aeroviária mostra que o
esforço de privatização está na direção certa. E não há mais gravidade no
abastecimento de água.
"O Brasil continua recebendo volume significativo de
Investimento Estrangeiro Direto. Imagine com uma economia ajustada", nota
o professor.
O desastre da competitividade, em todo caso, é generalizado
na América Latina. Somente o Chile consegue posição menos desconfortável, em
36º entre 61 países. México (45º) e Brasil caíram uma posição. A Colômbia se
manteve em 51ª. Somente a Argentina ganhou quatro posições (de 59ª para 55ª),
pela aposta do setor privado em melhorias com o novo governo. A Venezuela é a
lanterna, como o menos competitivo do mundo.
Neste ano, Hong Kong lidera o ranking de economia mais
competitiva do planeta, jogando os Estados Unidos para o terceiro lugar. A
Suíça fica em segundo. Os outros mais competitivos são Cingapura, Suécia,
Dinamarca, Irlanda, Holanda, Noruega e Canadá.
Centro financeiro e bancário, Hong Kong encoraja inovação
por meio de política tributária simples e baixa carga de impostos. O país não
impõe restrições sobre fluxos de capitais. Também oferece um portão para
investimento na China, o novo poder economico, e permite que os negócios ali
tenham acesso ao mercado de capital global, conforme o relatório.
No entanto, afora Hong Kong e Cingapura, o IMD indica que a
competitividade declinou também na Ásia desde o ano passado. A China caiu três
posições, para 25º lugar.
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