Artigo, Renato Sant'Ana - Crítica ou ataque ?


       É preciso repetir à exaustão que criticar governos é um bem, ao passo que a falta de crítica é um mal. Repetir não para brincar de isento, mas para afirmar essa ideia basilar da democracia. Agora, que não se confunda "crítica" (em que se presume o intuito de provocar melhorias) com "ataque" (mero estratagema de combate).
         Um exemplo de "ataque" é o artigo intitulado "Laranjas, falta de pagamento e Supremo", assinado por James Ackel (Folha de S. Paulo, 30/05/2019), escrito com nenhuma honestidade intelectual.
          Ele usa dois fatos (reais) para plantar duas crenças. Um é o uso de "laranjas, nas eleições de 2018, envolvendo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG): dinheiro público para financiar candidatura de mulheres teria sido usado para outros fins.
          Desde que surgiram as investigações, os ativistas da mídia tentam colar a ideia de "laranjas" no PSL, sempre marcado como partido de Bolsonaro e, muitas vezes, rotulado de "partido do laranjal", quando o verdadeiro campeão no uso de "laranjas" em 2018 foi o PSOL.
          Mas o que Ackel quer mesmo enfiar na cabeça do leitor está aqui: "Não esperem alguma atitude de Jair Bolsonaro (PSL) de afastar o ministro do Turismo, até porque o presidente eleito ainda não tomou posse", disse. Ele quer dizer que Bolsonaro, além de inoperante, é tão frouxo diante da corrupção quanto os que o precederam: dupla mentira!
          Já o segundo fato é o rolo com as contas de campanha de Márcio França (PSB), derrotado em segundo turno por João Doria para o governo de São Paulo em 2018. Uma produtora, contratada para a campanha, alegando não ter recebido pelo serviço, foi à Justiça Eleitoral pedir a impugnação das contas dele, o que pode torná-lo inelegível pelos próximos anos.
          Aí, ele lembra que França, além de não pagar, deixou de declarar à Justiça Eleitoral a dívida de campanha. Faz a citação para poder dizer que França agiu "diferentemente do que fez Fernando Haddad (PT), que foi a público pedir ajuda a seus eleitores para quitar as contas."
          A comparação é bem infeliz, porque, em matéria de prestação de contas, Haddad tem muito a explicar. Senão, vejamos.
          Saiu no Estadão, 16/01/18: "PF indicia Haddad por caixa 2". O repórter Fausto Macedo informa que Haddad foi indiciado por falsidade ideológica junto com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e mais cinco, resultado da Operação Cifra Oculta, desdobramento da Lava Jato.
          O Globo, 27/08/18: "Juiz eleitoral diz que há 'elementos de prova' de caixa dois de Haddad em 2012". Réu por crime na campanha para prefeito de S. Paulo (na 1ª Zona Eleitoral daquela capital), ele é acusado de receber R$ 1,9 milhão via caixa dois da empreiteira UTC.
          Folha de S. Paulo, 27/09/18: "Tesoureiro da campanha de Haddad é acusado de caixa dois". Segundo a matéria, seu antigo aliado Francisco Macena cuidou de suas contas na campanha de 2012. Foram ambos apanhados na Operação Cifra Oculta (que apura recebimento irregular de R$ 2,6 milhões pagos pela empreiteira UTC) e denunciados pelo MP em maio de 2018.
          Em 29/09/2018, o jornalista Políbio Braga informou no seu blog ter apurado que Fernando Haddad, no momento, respondia a cinco processos por improbidade perante a Justiça paulista.
          Em março de 2019, Haddad (candidato de 2018) foi condenado no Tribunal Superior Eleitoral por "veiculação de propaganda eleitoral negativa mediante impulsionamento de conteúdo na internet", leia-se "robôs", "fake news", o jogo sujo do PT nas redes sociais (Representação Nº 0601861-36.2018.6.00.0000).
          A finalidade de Ackel é desinformar, buscando dois objetivos: erodir a reputação de Bolsonaro e sedimentar uma imagem positiva de Haddad. É o lugar comum de diabolizar Bolsonaro e sacralizar tudo que seja esquerda.
          A técnica é bem conhecida. Discípulo de Paul Joseph Goebbels, Ackel é dado a repetir, repetir, repetir uma mentira para torná-la verdade. No tal artigo, em vez de criticar Bolsonaro (o que seria conveniente), ele busca impingir a crença em que o presidente não governa, para, logo, insinuar uma imagem higienizada do seu enlameado Fernando Haddad.

Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.


De: Angela Soares de Souza [mailto:angelass2163@gmail.com]

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