Atividade física pode intensificar e prolongar resposta de vacinas contra covid

 Atividade física pode intensificar e prolongar resposta de vacinas contra covid

Estudo conduzido por pesquisadores da USP e realizado com 748 pacientes do

Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) mostrou que

atividade física feita de forma regular está associada ao aumento da resposta

imunológica à vacina contra covid-19, que tende a diminuir com o passar do tempo. A

pesquisa investigou a associação entre a prática e anticorpos anti-Sars-CoV-2

persistentes, seis meses após esquema de duas doses de Coronavac em pacientes

com doenças reumáticas autoimunes (artrite reumatoide, lúpus, esclerose sistêmica,

miopatias inflamatórias, entre outras).

Os dados foram divulgados dia 28 de dezembro na plataforma Research Square, em

fase de pre-print, ainda sem revisão por cientistas externos: Associação de atividade

física com maior persistência de anticorpos por 6 meses após a segunda dose de

Coronavac em pacientes com doenças reumáticas autoimunes.

Em entrevista ao Jornal da USP, o

primeiro autor do artigo, Bruno

Gualano, professor do Departamento

de Clínica Médica da FMUSP e

especialista em fisiologia do

exercício, explica que a

imunogenicidade persistente

(capacidade da vacina provocar

resposta imune a longo prazo) dos

pacientes foi avaliada seis meses

após ter acontecido a vacinação

completa e “aqueles que eram

fisicamente ativos exibiram taxas de

soropositividade (presença de

anticorpos contra o coronavírus)

mais elevadas do que os inativos”.

Na opinião do pesquisador, em um

cenário global com escassez de

vacinas e respostas imunológicas

heterogêneas, é fundamental reunir

conhecimento sobre os fatores de risco potenciais associados à baixa persistência da

imunidade. “A proposta é desenvolver estratégias para aumentar a durabilidade da

imunogenicidade, bem como priorizar os indivíduos para receber uma dose de

reforço. As evidências que sugerem que a atividade física pode atuar como uma

espécie de adjuvante das vacinas são de extrema importância”, reforça.

Redução de anticorpos

Segundo o artigo, alguns estudos têm demonstrado que os anticorpos induzidos pela

vacina contra o coronavírus diminuem com o tempo. Os anticorpos neutralizantes

(NAb) contra a variante Beta, por exemplo, foram reduzidos consideravelmente seis

meses após o recebimento da segunda dose da vacina da Moderna e da Janssen, da

Johnson & Johnson; e a resposta humoral (resposta de anticorpos) da população em

06/01/2022 13:11 Atividade física pode intensificar e prolongar resposta de vacinas contra covid – Jornal da USP

https://jornal.usp.br/ciencias/atividade-fisica-pode-intensificar-e-prolongar-resposta-de-vacinas-contra-covid/ 3/4

geral também diminuiu substancialmente seis meses após o recebimento da Pfizer

Biontech, principalmente entre homens, pessoas maiores de 65 anos e pacientes

com imunossupressão.

Campanha de vacinação contra a Covid-19 – Foto: Cristine Rochol/PMPA

E embora a Coronavac tenha demonstrado eficácia na prevenção de casos graves

de covid-19, indivíduos que receberam esse esquema vacinal de duas doses

também tiveram declínio em sua resposta imunológica após seis meses o ciclo

completo de vacinação. No caso de pacientes com doenças reumáticas autoimunes,

dados deste mesmo estudo clínico, que é liderado pela pesquisadora Eloisa Bonfá

(FMUSP) , mostraram o mesmo padrão de diminuição da imunidade.

Análises de produção de anticorpos

Para avaliar a imunogenicidade persistente, ou seja, o quanto que a vacina havia

conferido proteção aos pacientes após seis meses de ter completado o esquema

vacinal, foram feitos exames sorológicos para verificar as taxas de soropositividade –

anticorpos IgG e a presença de anticorpos neutralizantes (NAb), que são indicativos

de resposta humoral à vacina. Para a designação se o paciente era ativo ou inativo

06/01/2022 13:11 Atividade física pode intensificar e prolongar resposta de vacinas contra covid – Jornal da USP

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fisicamente foi utilizado o parâmetro da Organização Mundial da Saúde (OMS), ou

seja, ativa é aquela pessoa que realiza alguma atividade física moderada ou vigorosa

por pelo menos 150 minutos por semana.

Detectado produção de anticorpos mais robusta em pessoas ativas

Fazendo os ajustes para idade, sexo, uso de medicamentos e obesidade, dos 748

pacientes analisados (421 ativos e 327 inativos), seis meses após completado o

esquema vacinal, ambas as taxas de positividade de anticorpos – IgG anti-SARSCoV-2 e neutralizantes – foram significativamente maiores para os ativos do que para

os inativos, relata o artigo. “Para cada 10 pacientes inativos que apresentaram

soropositividade , 15 ativos tiveram o mesmo resultado”, aponta Gualano.

Com base nos estudos realizados pelo grupo, Gualano conclui que “a atividade física

parece não somente montar uma resposta de anticorpos à vacina mais robusta,

como também parece aumentar a durabilidade do efeito protetor do imunizante. “Se

isso se confirmar, teríamos uma ferramenta barata e potencialmente capaz de

reduzir a baixa resposta vacinal de grupos de risco, como pessoas com sistema

imune disfuncional”, diz.

Tendo em vista os conhecidos benefícios da atividade física na prevenção de

doenças crônicas e até mesmo casos graves de covid-19, somados aos benefícios

agora observados para a resposta das vacinas, os autores recomendam a promoção

clínica de atividade física. “Um estilo de vida ativo pode exercer papel crucial no

combate da covid-19”, conclui o pesquisador.

Esse estudo faz parte de um amplo ensaio clínico de fase 4 (estudo de efetividade)

coordenado pela professora Eloisa Bonfá com a participação de diversos

pesquisadores do HCFMUSP.

Mais informações: e-mail brunogualano@yahoo.com.br ou gualano@usp.br,

com Bruno Guala

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