Conjuntura econômica, Estadão - Depois do avanço, a neblina


O Brasil fechou os primeiros quatro meses de 2018 com o melhor desempenho econômico em quatro anos

O Brasil fechou os primeiros quatro meses de 2018 com o melhor desempenho econômico em quatro anos, segundo a nova atualização do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Os novos dados combinam bem com números da produção industrial, das vendas no varejo e da execução de serviços, todos apontando para um avanço vigoroso em abril. Segundo as contas do BC, o nível de atividade entre janeiro e abril foi 1,55% superior ao de igual período de 2017. O último resultado melhor que esse foi registrado em 2014, com ganho de 1,69% no mesmo tipo de comparação. O IBC-Br, usado como antecipação do Produto Interno Bruto (PIB), só divulgado a cada três meses, resulta de uma combinação de informações setoriais e oferece uma primeira visão ampla do quadro econômico. 
Os números publicados pelo BC nesta sexta-feira têm significado ambivalente. Do lado positivo, mostram a recuperação continuada, embora lenta, de uma economia saída há pouco mais de um ano de uma funda recessão. Do lado oposto, são mais um indicativo da perda ocasionada pela crise no transporte rodoviário, pela demora na solução desse problema e pelo agravamento das incertezas de empresários, consumidores, investidores e agentes do setor financeiro. 
Como os números setoriais produzidos mensalmente pelo IBGE, o IBC-Br mostrou uma retomada de vigor em abril. No mês, o indicador subiu 0,46%, na série com ajuste sazonal, depois de um recuo de 0,51% em março. 
O dado de abril foi 3,70% superior ao de um ano antes, confirmando um desempenho econômico, mesmo com oscilações mensais, seguidamente melhor que o de 2017. A média do trimestre móvel ficou 1,15% acima da estimada para igual período do ano anterior e o crescimento acumulado em 12 meses chegou a 1,52%, embora a economia tenha exibido, no começo do ano, impulso menor que nos meses finais do ano passado. 
No trimestre encerrado em abril a atividade foi 0,29% menor que nos três meses de novembro a janeiro, mas as comparações interanuais continuaram positivas e isso mostra a continuação da tendência de recuperação. Em abril o IBC-Br alcançou 139,86 pontos na série sem desconto dos fatores sazonais. Esse foi o nível mais alto para um mês de abril desde 2015 (142,68 pontos), na fase inicial da recessão. 
Mas o desempenho positivo mostrado pelo retrovisor tem hoje pouco significado, segundo muitos analistas. Antes, poderia ser um indício de como a economia poderia evoluir nos meses seguintes, mas as condições, segundo argumentam, se tornaram muito menos animadoras: a crise no transporte, o longo impasse em relação à tabela de fretes e outros fatores de insegurança tornam inevitável uma baixa das expectativas. A mudança é facilmente visível nas projeções coletadas na pesquisa Focus, do BC, realizada por meio de consulta semanal a cerca de cem economistas do mercado. 
Na pesquisa divulgada na última segunda-feira o crescimento projetado para o PIB em 2018 ficou em 1,94%. Na semana anterior ainda estava em 2,18%, mas a queda havia começado semanas antes. Mas a piora das expectativas começou a afetar também as projeções para o próximo ano e esse talvez seja o detalhe mais sombrio. Durante um longo período as estimativas para 2019 indicaram crescimento econômico de 3%. Na última pesquisa esse número caiu para 2,80%. 
A inflação estimada para este ano e para o próximo continuou moderada, até esse levantamento, embora com alguma aceleração. O número esperado para 2018 subiu de 3,65% para 3,82% e o previsto para 2019 passou de 4,01% para 4,07%. Se as estimativas estiverem corretas, o resultado ainda ficará abaixo da meta (4,5%) nos dois anos. Mas qualquer projeção é agora mais arriscada que até recentemente, por causa da incerteza política interna, exacerbada pelo cenário eleitoral, e da mudança das condições externas, com juros mais altos e novos conflitos comerciais. Reformas paralisadas e novas pressões sobre as contas públicas tornam mais enevoado o caminho – o trajeto da recuperação hoje ameaçada.


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